Em meio a especulações sobre certa tensão no campo da oposição sobre o momento ideal para a escolha do candidato do grupo político, o presidente estadual do PMDB, Geddel Vieira Lima, assegura que o partido não considera a hipótese de sair isolado das forças oposicionistas. Não nesse momento.
“A minha tese é muito clara. Se eventualmente o PT antecipa a indicação do seu nome, na minha avaliação pessoal, a oposição tem que antecipar a indicação do seu nome. Ela pode ser aceita ou pode não ser aceita”, sugere Geddel.
Vice-presidente da Caixa Econômica, o peemedebista evita criticar o governo federal, mas não poupa críticas a gestão de Jaques Wagner na Bahia. “Eu acho que o PT está fatigado e na Bahia, sobretudo, o PT não tem um grande exemplo de gestão a dar”, dispara.
Tribuna – O PT bateu o martelo e deverá anunciar o candidato que vai representar o partido no dia 30. Acredita que a vontade do governador Jaques Wagner vai imperar sobre o partido, emplacando realmente Rui Costa?
Geddel Vieira Lima – Como observador da cena – não tenho que opinar sobre as questões de quem é adversário, apenas como observador -, eu não tenho dúvida. O governador vai conseguir colocar guela abaixo do partido e dos aliados o nome da sua preferência. Partindo de um pressuposto: o governador acha que só ganha com o seu secretário da Casa Civil. Se fosse outro nome um pouco mais independente, um pouco mais de voo próprio, ele imagina que eleito num dia, estaria formando liderança no outro. Por isso ele prefere alguém que ele acredite que será totalmente ameno. Portanto, eu não tenho dúvida alguma que ele caminhará para indicar o secretário da Casa Civil.
Tribuna – O que o senhor acredita que está por trás dessa movimentação repentina de José Sérgio Gabrielli e de Walter Pinheiro, de agora querer ser candidato? O senhor acha que tem alguma chance ou faz parte do jogo político do PT?
Geddel – Acho que faz de um jogo, é legítimo. São dois homens públicos, com trajetórias importantes, que sonham, desejam ser candidatos ao governo da Bahia. Mas eles também sabem, tanto quanto eu, que a chance é zero e que o jogo está definido. O candidato é aquele da vontade pessoal, unipessoal, do governador, que é o secretário da Casa Civil.
Tribuna – Confirmado o candidato petista, e a oposição? Chega ou já chegou a um consenso sobre a data de anúncio do candidato?
Geddel – Esse tema eu discuto no campo da tese. E a minha tese é muito clara. Se eventualmente o PT antecipa a indicação do seu nome, na minha avaliação pessoal, a oposição tem que antecipar a indicação do seu nome, o que não significa que seja o meu. Mas do nome que vai concorrer em torno, em nome dos partidos que hoje compõe, vamos chamar assim, a base de sustentação do prefeito ACM Neto. Essa tese que eu levanto, ela pode ser aceita ou pode não ser aceita. As duas posições são legítimas. Se aceita, vamos construir logo em seguida a indicação desse nome, fechamento dos entendimentos com os partidos, o início das conversas sobre chapa, tudo mais. Se não aceita e prevalece a tese que alguns legitimamente defendem de jogar para fevereiro, apesar da eventual indicação do nome do PT, é claro que o PMDB e eu pessoalmente nos reservaremos ao direito de, ao chegar em fevereiro, definir, pensando e repensando em nossa posição. Portanto, é uma tese que eu defendo, não estabelecendo prazos para outros. Mas estabelecendo prazos para mim mesmo e para o nosso partido.
Tribuna – O senhor disse que o PMDB tem prazo para que as coisas se definam. Se não houver o entendimento nesse período, o PMDB vai sair na frente e sozinho?
Geddel – Essa chance não existe. Eu defendo desde sempre que a viabilidade de um projeto – que não é um projeto contra o PT ou contra o governo, mas um projeto alternativo ao que está aí, que vise preservar o pouco do que foi feito de bom e é claro que alguma coisa foi feita, ninguém erra tudo em sete, oito anos de mandato, mas avançar muito mais, governar com atitude mais afirmativa, defendendo mais ativamente os interesses da Bahia, fazendo as coisas acontecerem, um pouco como ACM Neto tem feito em Salvador. Isso passa pela unidade desse conjunto de forças que estão hoje na oposição ao governo do estado. Portanto, a chance de uma candidatura ou de o PMDB sair na frente, desgarrado dos demais partidos, ela inexiste. Primeiro, o PMDB não tem seu prazo, o PMDB tem uma tese. Se a tese do PMDB não for aceita, e prevalecer a tese dos que acham que pode ir para depois do carnaval, o que nós fazemos é nos reservar ao direito de repensar a nossa posição. Se vamos ou não manter uma candidatura, que posicionamento teremos em relação a isso. Mas essa é uma postura que não passa em nenhum momento essa possibilidade de sair desgarrado ou sair atritado com o conjunto de forças no campo em que estamos integrados.
Tribuna – Como vê a movimentação do Democratas, que dá sinais claros que o ex-governador Paulo Souto pode ser o representante do partido nas urnas? Como ficará? Abrirá mão da cabeça de chapa?
Geddel – Primeiro, eu aprendi ao longo da minha vida é entender os movimentos políticos como absolutamente legítimos e naturais. Nada mais natural que parlamentares, que militantes do Democratas desejem que um Democrata encabece a chapa. Nada mais natural que no PMDB se repita esse sentimento e no PSDB ou em qualquer outro partido. Portanto, é absolutamente legítimo. O que eu tenho até agora de concreto, nesse caso específico é manifestação reiteradas, inclusive feita a mim por parte do ex-governador, que nessa quadra da vida, ele não se sentia motivado, depois de governar o estado duas vezes, em ser candidato a governador. O ex-governador pode mudar esse pensamento? É legítimo que mude, se eventualmente assim ele achar conveniente. Quando é que eu posso comentar a respeito desse assunto? Quando o ex-governador Paulo Souto a mim disser que mudou o seu pensamento e que deseja ser candidato. Enquanto isso não ocorrer, apesar de achar legítimo, a experiência me indica que eu não devo comentar especulação nem tititi de bastidor.
Tribuna – O senhor cogita em alguma possibilidade disputar o Senado ou isso é incogitável?
Geddel – Não discuti isso. Eu sou pré-candidato ao governo da Bahia. Em nome do PMDB, como peemedebista, e buscando apoio desse conjunto de forças. Desejando ardorosamente o apoio de ACM Neto, do José Carlos Aleluia, do Jutahy (Magalhães Jr.), do José Ronaldo, do (Antonio) Imbassahy, do João Almeida, do PTC, do PTN, do PV, do PPS, do PROS, desse conjunto de forças políticas. Sou pré-candidato a governador. Se essa pré-candidatura ao governo não for aquela que unifique essa corrente de pensamento, essa visão de Bahia, evidentemente que nessa hora então para discutir as alternativas que estão à frente. Se você quer especular, eu levo em conta todas. Inclusive ser deputado estadual. Retomar o mandato de deputado federal. Hipótese que não me agrada muito, acho que eu já dei minha contribuição à Bahia. Não sou um político profissional. Estarei aberto a discutir com esse conjunto de forças. O que eu acho que é importante é viabilizar um projeto político diferente para a Bahia. Você me fala mais especificamente que eu não sou de deixar pergunta sem resposta, na primeira avaliação o Senado não é algo que me encante. Mas quem está na política não pode dizer jamais “dessa água não beberei”.
Tribuna – Concorda com a tese de alguns de que Paulo Souto pode ser alçado a condição de vice de Aécio Neves, justamente para fortalecer a presença do PSDB aqui no nordeste?
Geddel – Olha, o Paulo é um nome respeitado, uma figura que tem tamanho e dimensão para ocupar qualquer função, inclusive a função de candidato a presidente da República. Mas eu não tenho informações a esse respeito. Aí é uma decisão mais do conjunto de forças que dará sustentação ao senador Aécio Neves e sobretudo uma decisão que vai depender muito do Aécio. Eu prefiro não opinar sobre uma coisa que não tenho governança.
Tribuna – E Lídice da Mata, como o senhor vê esse cenário, essa movimentação dela? Ela é candidata para valer?
Geddel – Aí só você perguntando a Lídice da Mata. Eu tenho com ela uma relação correta, já estivemos juntos numa eleição para prefeito, acho que o PMDB naquele momento foi muito importante, com seu tempo de televisão, com a sua parceria, com a indicação de Mário Lima, inclusive para resgatar uma imagem da Lídice que vinha muito desgastada por uma administração tida por muitos como muito ruim em Salvador. Portanto, é uma pessoa com que eu tenho boas relações. Acho que ela tem dificuldade. Ela tem dito que não é oposição ao governador, não se coloca como oposição ao governador. E com que roupa ela vai para a eleição? Com que discurso ela vai? Se ela não é oposição ao governador, ela é governo? Mas o governo já terá seu candidato. Política as vezes quando você vai para um processo eleitoral sem ser nem peixe nem carne, a sociedade estranha. Mas isso é uma avaliação de observador da política. Vamos aguardar os passos da senadora, que é uma política correta, respeitada na Bahia, e vamos fazer uma avaliação mais firme. Mas evidente que ela tem legitimidade e as circunstâncias podem empurrar ela para uma candidatura ainda que aparentemente contra a sua vontade.
Tribuna – Como o senhor mesmo colocou, o PMDB em um passado muito recente marchou com o PSB. Existe alguma possibilidade do PMDB não marchar com as oposições e marchar com Lídice numa composição?
Geddel – Acho muito difícil por essas razões que eu lhe coloquei. O PMDB antes de 2010 divergiu frontalmente do modelo administrativo do governador, ainda que reconheça qualidades pessoais. É uma figura simpática, amena no trato. Eu vi sempre o governador como uma figura do ponto de vista gerencial omisso, sem atitude para defender as causas da Bahia. Uma administração, um jeito de administrar muito lento. E são incontáveis os exemplos. Na segurança pública, obras em ritmo de tartaruga, devolução de recursos para o governo federal, falta de capacidade de tirar obras do papel, saúde pública um caos, educação com indicadores que arremetem para os últimos lugares em termos de qualidade. E nós divergimos disso e não fomos ouvidos. Portanto, nós nos posicionamos, desde antes de 2010, como um partido e eu pessoalmente como político na oposição. Se a senadora Lídice não está nesse campo, é difícil você manter uma perspectiva de aliança política com quem ainda não definiu em que campo vai atuar.
Tribuna – Como observador do cenário, o senhor acredita que os dissidentes da chapa do PT, ou seja o PDT e o PP de Mário Negromonte, poderão marchar com Lídice ou ficar boiando justamente não dizendo amém ao que Wagner quer?
Geddel – Eu acredito que o caminho natural deles é dizer amém ao que o governador quer. Mas evidentemente nesse processo a candidatura de Lídice pode ser útil a eles para que possam, ao sinalizar que vão conversar, quem sabe se cacifa para que esse amém seja um amém mais abençoado, mais suave. Que o governador faça com que seja um amém mais robusto.
Tribuna – Como avalia os 11 meses do governo ACM Neto aqui em Salvador?
Geddel – Acho que muito positivo, sobretudo porque ACM Neto tem tido algo que, para mim, é muito importante na gestão pública: capacidade de planejar. Veja que, enquanto a secretaria de Planejamento do estado virou um trampolim para a política, na medida em que em sete anos foram cinco ou seis secretários de estado, uma das mais importantes atividades da gestão pública. ACM Neto tem planejado, estabelecido planos de metas, metas a serem cumpridas, cobranças aos secretários e os resultados em menos de um ano de gestão a gente já vê de forma clara. Os avanços estão aí. Você sente movimentação na cidade. Você sente vida, você sente melhora da autoestima. Você sente mudança de atitude, isso para mim é fundamental. Eu estou muito satisfeito com a decisão que o PMDB tomou lá atrás e apoiar a candidatura de ACM Neto no segundo turno e participar da sua gestão.
Tribuna – Reta final do governo Wagner, o que o senhor acha que ficou de marca positiva e o que é que o governador vai ter de pior marca até o final da gestão?
Geddel – Olha, umas obras que vão ser concluídas agora obrigatoriamente no último ano, ainda que eu diga sempre com muita lentidão. A Bahia perdeu muito do que o Brasil ofereceu de oportunidades quando você compara com outros estados, sobretudo no nordeste. O governador vai deixar uma marca da sua simpatia pessoal, do jeito ameno com que faz política, acho que isso é uma marca importante, distensionou o quadro político da Bahia. Mas deixará um legado muito ruim, sobretudo em áreas como segurança pública, os números do anuário da segurança pública são terríveis, desmente brutalmente os números do governo, mostra que até inteligência policial nós fomos um dos estados que menos investimos. Que ano passado fomos o estado com o maior número de assassinatos no Brasil, enquanto outros estados diminuem seus indicadores, a Bahia perde. A saúde pública é um caos, um caos. Sem qualidade, descaso absoluto e a educação sustentada em apenas um programa que é o Topa – Todas pela Educação, que teve seus números da propaganda brutalmente desmentidos pela pesquisa do IBGE. Uma educação que, como não tem projetos, frequenta os últimos lugares no ranking de qualidade educacional. Acho que, para quem teve o que teve, para quem disse que, sendo do mesmo time do governo federal – e é do mesmo time – há oito anos praticamente, será oito anos, foi muito pouco, foi muito pequeno o legado que esse governo deixa. Sem falar de Ferrovia Oeste-Leste, Porto Sul, de Salvador x Itaparica, metrô e de tantas e tantas promessas que a gente chegou a ver propagandas dando como se já fosse algo concreto e a gente vai chegando ao fim do governo com sentimento de absoluta desilusão.
Tribuna – Concorda com a tese de que há uma fadiga do modelo do PT de governar e acredita que vai ser fácil mostrar essa fragilidade do projeto petista, sobretudo no aspecto de gestão?
Geddel – Fácil nada é em política, em eleição. A gente não pode nunca menosprezar nem adversário, nem sobretudo a capacidade da sociedade analisar os processos. Agora, eu acho sim que está fatigado o PT e na Bahia, sobretudo, o PT não tem um grande exemplo de gestão a dar. E eu sei que pode fazer mais. Porque quando eu fui ministro, eu fiz. Apesar de não ser o dono da caneta. Mas comprei brigas. Aqui a Centenário como exemplo em Salvador, o Imbuí como exemplo, a Vasco da Gama como exemplo. As centenas de escadarias drenantes, centenas de encostas, taí uma Defesa Civil equipada para fazer iniciativas preventivas, isso no estado inteiro. Enquanto nenhuma barragem foi construída e entregue a sociedade, eu construí a única grande barragem na Bahia, Gasparino, deixamos obras em quase todos os cantos do estado a ponto de sofrer a acusação de ter privilegiado a Bahia na minha passagem pelo Ministério. Portanto, eu mostrei que é possível gerencialmente, quando se tem amor a essa terra, vontade de enfrentar os problemas, quando não se tem medo das críticas e tem vontade de decidir e fazer as coisas acontecerem. Acho que esse vai ser um debate interessante. Fácil nada é, mas possível e bastante possível, eu não tenho dúvida nenhuma. Eu diria até que as oposições sairão como favoritas nessa eleição.
Tribuna – O cenário nacional vai ter uma influência muito grande aqui na Bahia. Como avalia, Aécio vai ter dificuldade de se viabilizar no interior do estado? Marina Silva leva vantagem? Dilma...
Geddel – Fazer uma análise sobre isso agora é absolutamente precipitado, porque a sociedade nesse momento vive um monólogo institucional. A presidente da República, por ser presidente da República, tem uma cobertura farta da imprensa. Além dos seus posicionamentos institucionais.
Colaboraram Fernanda Chagas e Fernando Duarte. / TRIBUNA DA BAHIA